O culto das relíquias

O que se entende por relíquias?

De acordo com a etimologia do termo, as «relíquias» são «restos» deixados pelos Santos, quer de natureza corpórea (por exemplo, ossos, cabelos, sangue coagulado, etc.), quer objectos que lhes pertenceram (por exemplo, roupas, cilício, instrumentos do martírio, etc.).

Por vezes, o termo é alargado aos objectos que entraram em contacto com os mesmos.

«As relíquias insignes dos Santos ou dos Beatos são o corpo, a cabeça, os braços, os antebraços, o coração, a língua, as mãos, as pernas ou as partes do corpo onde o mártir sofreu, contanto que estejam inteiras e não tenham dimensões reduzidas» (Cân. 1281, § 2).

Porque é que a Igreja Católica honra as relíquias dos Santos?

Segundo a doutrina do Concílio de Trento (Sess. XXV), as relíquias corporais dos Mártires e dos Santos eram membros vivos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo; ressuscitarão para a vida eterna e serão glorificadas. Devem ser honradas pelos fiéis e receber grandes benefícios de Deus1 .

As homenagens dirigidas às relíquias destinam-se aos próprios Santos. Assim, o culto das relíquias é apenas relativo e indirecto. Não honramos um membro inerte por si mesmo, mas por causa da alma do Santo que o animava e que, neste momento, goza da visão beatífica. Honramo-los também por causa de Deus, de cujos dons estes Santos foram servidores2 .

Quanto às graças de protecção que a Igreja espera das relíquias para aqueles que as honram, ela indica-as na bênção dos relicários no Pontifical Romano3 ou no Ritual: «que todos aqueles que venerarem estas relíquias para conforto das suas almas, obtenham destes santos o perdão de todos os seus pecados e, com o Vosso auxílio, sejam protegidos de todas as adversidades»4 . O culto das relíquias é também um testemunho de fé na ressurreição do corpo. A colecta para a festa das relíquias do dia 5 de Novembro5 pede: «Aumentai em nós, Senhor, a fé na ressurreição, Vós que fazeis maravilhas através das relíquias dos Vossos Santos e nos tornais participantes da glória imortal cujo penhor veneramos nas suas cinzas».

E, no Ofício desta festa (quinta lição), São João Damasceno (749) ensina que, através das relíquias, os demónios são expulsos, os doentes são curados, os cegos recuperam a vista, os leprosos são limpos, as tentações e as provações são dissipadas, e que todo o bem desce sobre aqueles que rezam com verdadeira confiança.

A Igreja venera as relíquias dos seus Santos

A Igreja dedica grande culto às relíquias dos seus Santos.

• A Missa é sempre celebrada sobre as relíquias dos Mártires. Ao encerrar nos seus altares as relíquias dos seus Mártires, a Igreja presta uma honra suprema às suas testemunhas sangrentas e eleva os seus altares à dignidade de relicários. Ao oferecer o seu sacrifício sobre os seus «sacrificados» por excelência, ela recorda-nos intuitivamente a nossa solidariedade vitimária com Cristo. A Missa, de facto, é o sacrifício de Cristo, com a nossa participação. Cristo, a Cabeça, atrai os Seus membros para a Sua oblação. Durante a Missa, o sacerdote beija o altar várias vezes. Na primeira vez, diz: «Nós vos pedimos, Senhor, pelos méritos dos Vossos Santos, cujas relíquias estão aqui, e de todos os Santos, que Vos digneis perdoar os nossos pecados. Amém».6

  Os relicários são também frequentemente colocados entre os castiçais do altar e incensados solenemente durante a Missa.

• Inúmeras lições do Ofício mencionam as relíquias do Santo celebrado nesse dia. Algumas festas devem a sua origem à trasladação das relíquias (por exemplo, a Conversão de São Paulo, 25 de Janeiro). Em muitas dioceses, celebra-se uma festa especial «das Relíquias que se conservam nas igrejas da arquidiocese ou das dioceses» (na Bélgica, 5 de Novembro, em plena oitava do dia de Todos os Santos, como convém).

• As relíquias dos Santos são também expostas no altar para a veneração pública.        
  
  São levadas solenemente em procissão e incensadas7 . No final, o povo é abençoado com as relíquias. As relíquias são também beijadas pelos fiéis: «Que o Senhor vos conceda a salvação e a paz pelos méritos e intercessão de São N...»  
  
  Também os relicários são benzidos solenemente.

• Acrescente-se que as relíquias da Santa Cruz ou dos Santos são geralmente incluídas nas cruzes peitorais dos bispos. Por vezes, os seus anéis contêm também relíquias.

Cón. A. Croegaeret

• 1Cf. Denzinger, n.º 985.
• 2Cf. Sum. Theol., III, Q. 25, art. 6.
• 3De benedictione capsarum pro Reliquiis et aliis Sanctuariis includendis. Ver especialmente o prefácio.
• 4Benedictio capsarum pro reliquiis sanctorum includendis. Apêndice n.º 4.
• 5Nas dioceses da Bélgica.
• 6Relativamente a esta oração, ver o comentário em A. Croegaert, Les rites et prières du S. Sacrifice de la messe, 2.ª ed. t. I, pp. 377-378.
• 7Rit. Rom., Tít. IX, cap. XIV.