A má situação da catequese

Fonte: Distrito de Espanha e Portugal

Importância da catequese

Todas as nossas escolas profundamente católicas desenvolvem um trabalho educativo considerável. Além disso, para as crianças que não podem beneficiar dele, a catequese constitui uma das melhores obras dos nossos priorados: os sacerdotes realizam-na com zelo.

«Quem ainda arde de zelo pela glória de Deus procura as causas desta crise religiosa; cada um aponta as suas... Por nós, sem negar as outras causas, damos a Nossa preferência à opinião daqueles que vêem na ignorância das coisas divinas a causa principal da actual depressão, da debilidade das almas e dos gravíssimos males que se seguem»1 , disse São Pio X.

A catequese deve, portanto, ocupar o primeiro lugar nas actividades do pastor de almas.

No nosso país, a catequese raramente é tratada com a honra do primeiro lugar devido a Deus e com o respeito devido à fragilidade das almas das crianças. As escolas laicas e as escolas falsamente confessionais contribuíram largamente para isso. As férias que pontuam o ano lectivo também não facilitam a necessária coerência. As ocasiões de faltar são frequentes e poucos pais compensam efectivamente as faltas. Por vezes, a catequese é mesmo vista como uma actividade extra ou opcional.

Obrigação da catequese

A legislação da Igreja recorda repetidamente aos sacerdotes a sua gravíssima obrigação2 de instruir tanto os que se preparam para os primeiros sacramentos como os adolescentes mais velhos. Uma obrigação sob pena de pecado! Mas o que é que eles podem fazer quando são os pais que não colaboram? O pecado não muda de lado? A lei da Igreja também se dá ao trabalho de nomear os pais3 : eles são os principais responsáveis por «assegurar a instrução religiosa dos filhos que deles dependem».

Quando uma criança é baptizada, a semente lançada na sua alma não tem o direito de ser espezinhada. Por isso, os pais fazem a promessa de instruir os seus filhos nas verdades necessárias à salvação e de os ajudar a chegar ao Céu, praticando a oração e os sacramentos. No que diz respeito aos não-baptizados, o dever é igualmente grande: que responsabilidade é para com o Criador trazer-Lhe uma alma nova para fazer dele um feliz eleito no Céu. A salvação eterna e o julgamento divino – que podem chegar a qualquer momento, mesmo para uma criança – não são opções, tal como não deixaríamos a saúde de uma criança definhar sem qualquer intervenção.

Até que idade?

Numa idade precoce, a maioria das pessoas de bom senso está convencida dos méritos da catequese. No entanto, a partir da comunhão solene, os pais sérios deixam-se contornar tanto pela preguiça crescente do pré-adolescente como pelo argumento do «demasiado trabalho» (sic): um argumento que nos deixa cépticos quando se descobre, alguns anos mais tarde, até que ponto aumentaram os filmes, as mensagens de texto, a utilização de ecrãs e as actividades de lazer inúteis de todo o tipo, sem que os pais tenham podido travar o processo...

Numa idade em que o espírito se abre a uma verdadeira maturidade de pensamento, a perseverança neste ensinamento faz com que a religião não se reduza a «simples conhecimentos para crianças», mas conduza a uma verdadeira sede de graça e de intimidade com Deus.

O processo de descristianização das almas

Nesta idade da pré-adolescência, a grande maioria das crianças privadas de qualquer instrução religiosa tornam-se «paroquianos passivos»: durante mais dois ou três anos, podemos ter a sorte de as ver na Missa, mas cuidadosamente «sentadas» – especialmente durante a Comunhão; quanto à Confissão, escusado será dizer que está a desaparecer gradualmente do horizonte. Porquê espantarmo-nos: muitos pais não se preocupam com isso para si próprios.

No momento em que a sua inteligência se desenvolve para a perfeição adulta, já não recebem este ensino adaptado à sua nova maturidade. Não terão eles conhecimentos demasiado escassos para um adulto sobre «a Encarnação do Verbo de Deus, a restauração perfeita do género humano por Ele realizada, a procura da graça, que é o principal meio de adquirir os bens eternos, o augusto Sacrifício ou os Sacramentos, pelos quais obtemos e conservamos a graça»1 , como nos recorda São Pio X?

«Afirmamos que onde a mente está envolta na escuridão da espessa ignorância, é impossível subsistir uma vontade recta ou bons costumes. Porque se é possível que alguém que caminha com os olhos abertos se desvie do caminho recto e seguro, este perigo ameaça certamente aquele que é cego», acrescenta.

É de recear que aqueles que não obedeceram às leis graves da Igreja nunca vejam a fé dos seus filhos reforçada. É verdade que a educação é uma arte difícil; mesmo que ponhamos todas as hipóteses espirituais do nosso lado, Deus reserva, por vezes, certas provas, porque a salvação de uma alma exige sempre uma resposta livre da pessoa em causa, e muitas orações e sacrifícios dos pais. Mas quando nada é feito, a perseverança religiosa torna-se um milagre.

Acima de tudo, estimemos dar aos nossos filhos o amor pelas verdades que são as únicas eternas.

«Esta doutrina de Jesus Cristo ensina-nos também a sabedoria do espírito, que nos protege da prudência da carne; a justiça, que nos leva a dar a cada um o que lhe é devido; a fortaleza, que nos dispõe a sofrer tudo, e com um coração magnânimo, por Deus e tendo em vista a felicidade eterna; a temperança, que nos leva a amar a pobreza, mesmo por causa do reino de Deus, e, mais ainda, a gloriarmo-nos na cruz, desprezando a ignomínia.»1

 

P. Jean-Pierre Boubée, FSSPX

  • 1 a b c Encíclica Acerbo nimis, São Pio X, 15 de Abril de 1905.
  • 2Por exemplo, os Cânones 1330 e 1331, Código de 1917.
  • 3Cânone 1335, Código de 1917.