A Fraternidade de São Pio X está fora da Igreja?

Fonte: Distrito de Espanha e Portugal

O fundamento da existência da Fraternidade de São Pio X é o testemunho de toda a fé católica tradicional e não apenas de uma parte dela. Este testemunho não é um capricho pessoal da Fraternidade, não provém de um carisma particular ou extraordinário, mas é uma necessidade de salvação para cada cristão. Infelizmente, coloca-nos «em oposição formal, profunda e radical contra a Igreja do Vaticano II, infestada de ideias modernistas» (Conferência de imprensa de Mons. Lefebvre – 15 de Junho de 1988). O que é que podemos fazer?

A posição de Mons. Lefebvre manteve-se sempre inalterada: «O que é próprio de um católico é amar Roma. Uma vez que somos dolorosamente atingidos e martirizados pelo obscurecimento da doutrina da Igreja Romana, devemos separar-nos da Igreja de Roma? E ligarmo-nos directamente a Nosso Senhor Jesus Cristo? Erro perigoso! É nosso dever ponderar bem a questão, para não nos extraviarmos e desejarmos no nosso coração sentimentos e orientações que nos conduziriam depois para bem longe da Igreja» (7 de Setembro de 1981).

Concretamente, quando a Fraternidade recebeu a aprovação da Igreja por parte de Mons. Charrière, a 1 de Novembro de 1970, Mons. Lefebvre escreveu: «Não foi providencial? Para mim, esta data de 1 de Novembro de 1970 é um acontecimento-chave na nossa história: é a certidão de nascimento oficial da Fraternidade. Foi a Igreja que a deu à luz nesse dia. A Fraternidade é uma obra da Igreja. Eu teria horror de fundar qualquer coisa sem a aprovação de um bispo» (Revista Fideliter, n.º 59, p. 66).

Mas as sanções romanas que se seguiram, incluindo a supressão da Fraternidade, aprovada por Paulo VI a 6 de Maio de 1975, não colocaram a obra em «ruptura com Roma»?

Sem querer fundar uma igreja paralela, Mons. Lefebvre mantém-se firme: «O problema da situação dos fiéis e da situação do actual papado torna obsoletas as dificuldades da jurisdição, da desobediência e da apostolicidade, porque estas noções pressupõem um papa católico na sua fé e no seu governo» (Novembro de 1983).

Para sustentar a sua afirmação, Mons. Lefebvre faz-nos compreender que estar em comunhão com Roma não é apenas no espaço (o papa e os bispos de hoje), mas também no tempo: «Parece-me que ouço as vozes de todos estes papas, desde Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, que nos dizem: “mas, por favor, por favor, o que ides fazer com os nossos ensinamentos, com a nossa pregação, com a fé católica, ides abandoná-la? Ides deixá-la desaparecer desta terra? Por favor, por favor, continuai a guardar este tesouro que vos demos. Não abandoneis os fiéis, NÃO ABANDONEIS A IGREJA! Continuai a Igreja! Porque finalmente, depois do Concílio, as autoridades romanas adoptaram e professaram o que nós condenávamos» (Texto que serviu de mandato apostólico para a cerimónia das sagrações de 30 de Junho de 1988).

Rejeitando a visão sedevacantista (segundo a qual já não há papa), Mons. Lefebvre repetiu vezes sem conta, durante todo o período das sagrações, que não estava a fundar uma igreja paralela, mas que estava a levar a cabo uma «operação de sobrevivência».

Finalmente, a Igreja Católica é a barca de São Pedro que encalhou no recife do Concílio Vaticano II, provocando um rombo (a perda da fé de milhões de almas). A Fraternidade Sacerdotal de São Pio X é um barco a remos para salvar a Fé. Toda a gente sabe que um barco a remos lançado ao mar faz parte da embarcação esperando que a entrada de água seja colmatada.

 

P. Laurent Pouliquen, FSSPX