STA. MARIA MADALENA - O olhar que muda a vida

“Então Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, de grande valor, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o cheiro do perfume. Disse, então, Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que havia de entregá-lo: ‘Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para se dar aos pobres?’ [...] Jesus disse: ‘Deixa-a. Ela guardou-o para o dia da minha sepultura.’”
Introdução
Ontem, ao começarmos esta Semana Santa, ficou diante de nós Judas, o traidor. Hoje, vamos a olhar para Maria Madalena, a penitente fiel. São dois corações opostos: aquele que se fecha ao amor, e aquele que se entrega totalmente. Duas formas de estar junto de Cristo: por interesse... ou por amor.
Através do gesto desta mulher, que unge Jesus com perfume e lágrimas, o Evangelho revela-nos um dos grandes mistérios da Paixão: o amor que repara, a alma que reconhece a sua miséria e responde com generosidade sem medida.
Madalena é imagem da alma arrependida, da alma tocada pela misericórdia, da alma fiel que não fugirá do Calvário.
Hoje queremos, nesta meditação, entrar com ela na casa de Betânia. Queremos aprender com o seu gesto, imitá-la, para que também a nossa vida seja perfume derramado aos pés do Salvador.
I. O perfume: símbolo da entrega total
O Evangelho diz-nos que Maria tomou “uma libra de perfume de nardo puro, de grande valor”. Não era um perfume qualquer. Era o melhor. O mais caro. Equivalente a quase um ano de salário.
E o que fez ela com esse tesouro? Derramou-o. Desperdiçou-o, diriam os homens. Mas para o amor, nada se perde se for dado a Cristo.
Este gesto tão simples tem uma força imensa:
- Não calcula.
- Não mede.
- Não guarda nada para si.
A alma que foi tocada pelo amor de Deus já não pode viver pela metade. Já não quer viver para si. Madalena tinha conhecido o perdão. Sentira como Jesus curara as suas feridas. E agora, só queria amá-l’O. E queria reparar com amor o amor que um dia ela recebeu.
E nós? Que perfume oferecemos ao Senhor? Damos-Lhe o melhor... ou as sobras?
Oferecemos-Lhe tempo, sacrifício, vida... ou o pouco que nos resta quando já vivemos para nós?
O perfume de Madalena é imagem de tudo aquilo que podemos oferecer:
- as nossas lágrimas pelos nossos pecados da vida passada,
- a nossa penitência,
- a nossa oração,
- o nosso silêncio ao controlar a língua,
- os nossos trabalhos quotidianos,
- as nossas renúncias interiores.
Tudo isso, se oferecido com amor, enche a casa inteira do bom odor de Cristo.
II. O julgamento dos homens e o olhar de Cristo
Mas naquele momento, ergue-se uma voz... a voz do falso piedoso. É Judas quem protesta:
“Por que não se vendeu isto para dar aos pobres?”
Quantas vezes acontece o mesmo. A alma que quer dar tudo, que deseja viver em penitência, consagrar-se a Cristo... é criticada. É julgada. Dizem-lhe: “Isso é exagero”, “não é necessário”, “é fanatismo”.
Mas Jesus defende Madalena. Ele vê o coração. Ele não mede como o mundo. Aquilo que, aos olhos humanos, parece um desperdício inútil, para Cristo é um acto de amor precioso.
Não tenhamos medo de ‘desperdiçar’ a nossa vida por Cristo. Não temamos o sacrifício, a penitência, a consagração. Não tenhamos receio de ser generosos. O mundo não entende o amor. Mas Cristo entende.
E há um detalhe belíssimo: diz o Evangelho que “a casa encheu-se com o cheiro do perfume”.
Quando uma alma ama verdadeiramente, esse amor contagia. Quando alguém vive em graça, em penitência, em entrega... a sua vida torna-se bênção para os que o rodeiam. É como esse perfume: todos o notam. E é glória para Cristo.
III. Uma unção para a sepultura: amor fiel até à Cruz
Jesus diz algo misterioso: “Deixa-a. Ela guardou-o para o dia da minha sepultura.”
Maria Madalena não sabia... mas estava a ungir o Corpo do Senhor antes da Cruz. Estava a preparar, com o seu amor, esse Corpo que seria dilacerado pelos nossos pecados.
E o que fará Madalena depois? Não fugirá.
- Estará ao pé da Cruz.
- Estará junto de Nossa Senhora.
- Estará na manhã da Páscoa, a primeira a procurar o Corpo do Senhor.
O amor que começou com um perfume, terminou numa fidelidade heroica.
- Onde estaremos nós quando chegar a hora do Calvário?
- Seremos como Judas, que vendeu... ou como Madalena, que permaneceu fiel?
Esta Semana Santa é tempo de reparação.
É tempo de derramar perfumes:
- perfume de confissão sincera,
- perfume de sacrifício e penitência,
- perfume de terço rezado com amor,
- perfume de tempo oferecido a Deus.
Conclusão: A tua vida também pode ser perfume
Nesta Semana Santa, Cristo dirige-se a cada um de nós e diz:
“Amas-Me como Madalena... ou calculas como Judas?”
Não tenhamos medo de partir o frasco do nosso perfume e derramar tudo. Não guardemos nada. A alma que se dá por inteiro a Cristo, ganha tudo.
E se temos sido mornos, se nos afastámos, se temos sido Judas... ainda estamos a tempo de nos tornarmos Madalenas. Ainda podemos chorar, beijar os seus pés e recomeçar.
Olhemos para Nosso Senhor como Santa Maria Madalena, com esse olhar que muda a vida...