S. PEDRO - O olhar que atravessa a alma

“Então o Senhor voltou-Se e olhou para Pedro; e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe tinha dito: ‘Antes que o galo cante hoje, três vezes Me negarás.’ E saindo para fora, chorou amargamente.”
Introdução
Nestes três dias santos, a Igreja colocou diante dos nossos olhos três personagens centrais da Paixão:
- Na segunda-feira, meditámos sobre Judas, o apóstolo que traiu.
- Na terça-feira, sobre Maria Madalena, a penitente fiel.
- E hoje, quarta-feira santa, o Evangelho apresenta-nos outro protagonista deste grande drama: São Pedro, o príncipe dos Apóstolos, o homem forte… que caiu. Aquele que prometeu dar a vida por Cristo, e depois negou conhecê-l’O.
Mas Pedro não terminou como Judas. Pedro caiu… mas deixou-se olhar. Negou… mas deixou-se perdoar. E nesse olhar de Cristo começa a sua verdadeira conversão, a sua verdadeira missão. Pedro tornar-se-á a pedra, não porque nunca tenha caído, mas porque se deixou levantar.
Hoje queremos meditar na misericórdia de Cristo que transforma a queda em fidelidade, o pecado em graça, o choro em amor.
I. Pedro: amava, mas ainda era fraco
Pedro era impulsivo, ardente, generoso… mas ainda muito humano, ainda não purificado pela cruz. Quando Cristo lhe anuncia que O negará, ele responde com entusiasmo:
“Ainda que todos Te abandonem, eu jamais Te abandonarei. Estou pronto para morrer contigo.”
Boa intenção, mas cheia de confiança em si mesmo.
Quantas vezes também nós fazemos promessas, confessamos com sinceridade, começamos com fervor… e depois caímos? Porque nos faltava humildade, vigilância e oração.
Pedro não vigiou. Adormeceu no Horto. Não rezou. Aqueceu-se junto ao fogo dos inimigos de Cristo. Pouco a pouco, o seu coração foi arrefecendo. E quando lhe perguntaram:
“Tu estavas com Ele, não estavas?”
Ele respondeu: “Não O conheço.”
Não uma, nem duas, mas três vezes.
Negar a Cristo! Depois de ter caminhado sobre as águas! Depois de ter sido escolhido! Depois de ter ouvido: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja!”
E no entanto… essa queda será o início da sua verdadeira grandeza.
II. O olhar de Cristo: a misericórdia que levanta
O Evangelho diz:
“O Senhor voltou-Se e olhou para Pedro.”
Não diz que o repreendeu. Não o gritou. Não o envergonhou. Olhou-o.
Que mistério nesse olhar!
- Não foi um olhar de desprezo.
- Não foi de condenação.
- Foi um olhar de amor ferido.
Um olhar que dizia:
“Pedro, ainda te amo. Negaste-Me… mas Eu não te nego. Viraste-Me as costas… mas Eu continuo a olhar o teu coração.”
Esse olhar atravessou a alma de Pedro. Fê-lo recordar. Diz o texto:
“E Pedro lembrou-se das palavras do Senhor…” E chorou amargamente.
Mas não chorou como Judas. Não foi um choro de desespero. Foi um choro de dor amorosa. O choro de Pedro não foi castigo. Foi graça.
Meus irmãos, todos nós já negámos Cristo alguma vez. Com as palavras, com as omissões, com os pecados escondidos, com a tibieza.
Mas o Senhor, na Sua Paixão, também nos olha.
Olha-nos na oração, na confissão, no Sacrário.
E com o Seu olhar pergunta:
“Amas-Me, apesar da tua miséria?”
III. Das lágrimas ao martírio: o poder do perdão
A história de Pedro não terminou com o canto do galo. Após a Ressurreição, Jesus vai ao seu encontro junto ao lago. Não o repreende. Apenas lhe faz uma pergunta que o fere profundamente:
“Simão, amas-Me?”
Pedro, humilhado, mas confiante, responde:
“Senhor, Tu sabes tudo. Tu sabes que Te amo.”
Cristo não lhe diz: “Já não serves.”
Diz-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.”
O que negou… será o que anunciará.
O que fugiu… será o que morrerá crucificado por amor a Cristo.
Assim age a misericórdia divina: não apaga o passado, mas transforma-o.
Pedro será fiel, não por orgulho, mas por um amor purificado pelas lágrimas.
Conclusão: Não importa quantas vezes tenhas caído
Hoje o Evangelho diz-nos que não há queda definitiva se houver humildade e amor.
Cristo não procura almas perfeitas. Procura corações sinceros.
- Se caíste, levanta-te.
- Se pecaste, chora.
- Se O negaste, volta.
- Se não consegues, deixa-te olhar.
Hoje Cristo olha também para nós.
Olha-nos com o mesmo amor com que olhou Pedro.
Não fujas desse olhar. Não feches os olhos.
Chora se for preciso. Mas chora como Pedro: com esperança de amar mais do que antes.