As lágrimas da Virgem: quem as enxugará?

Fonte: Distrito de Espanha e Portugal

Hoje, o mundo calou-se. Os sinos estão em silêncio, os altares despidos. Jesus, o Rei do Amor, morreu. E neste silêncio sagrado brilha uma figura solitária, uma mulher vestida de luto, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Essa mulher é Maria. É a nossa Mãe.

 

I. As lágrimas silenciosas da Mãe Dolorosa

No Calvário, quando tudo parecia perdido, Ela estava ali. Não gritou, não desmaiou como faria qualquer outra mãe. Ela permaneceu de pé. De pé… mas despedaçada por dentro. Firme por fora, mas crucificada na alma.

São Bernardo ousa dizer que foi um “martírio sem ferro”, pois a alma de Maria foi trespassada pela espada da dor. Aquela espada profetizada por Simeão cravou-se no mais profundo do seu ser.

Hoje, no Sábado Santo, essas lágrimas ainda não cessaram. São lágrimas doces e amargas: doces, porque Ela sabe que o seu Filho cumpriu a missão; amargas, porque o pecado do mundo continua a pesar sobre o seu Coração Imaculado.

São Afonso de Ligório escreve: “Maria não foi mártir apenas por ver o seu Filho morrer, mas porque aceitou essa morte, ofereceu-a, abraçou-a com uma fidelidade heroica. E, no entanto, quanto chorou a sua alma puríssima naquela oferta!”

As suas lágrimas foram de redenção, lágrimas que clamam ao Céu pela conversão dos pecadores.

 

II. O que causa as lágrimas de Maria?

Hoje Maria chora… não apenas pelo que o seu Filho sofreu, mas porque esse sacrifício tão precioso, tão doloroso, será em vão para muitos.

São Luís Maria Grignion de Montfort afirma que a maior dor de Maria foi saber que muitos iriam rejeitar o amor de Jesus. Ela viu-O morrer por todos… e viu também que muitos viveriam como se Ele nunca tivesse existido.

Cada alma que se perde é um novo prego. Cada pecado mortal, uma bofetada. Cada indiferença, uma zombaria. E Maria… continua a chorar.

Mas não são lágrimas de desespero. São lágrimas de Mãe. Lágrimas que suplicam ao Céu por cada filho perdido. Lágrimas que gritam em silêncio:
“Meu Filho! Ele amou-te tanto… e tu, o que fazes por Ele?”

São Bernardo, contemplando a Paixão, diz que a Cruz de Jesus foi também a cruz de Maria, porque naquele madeiro não morreu apenas o Filho, mas também a alegria da Mãe.

 

III. Um coração que espera… no meio da dor

O Sábado Santo é o dia da espera dolorosa, mas também da fé mais pura. Maria viu o seu Filho morrer. Teve-O morto nos braços, como num novo Natal… mas agora sem vida, sem calor,... sem alegria.

E que faz Maria? Não foge. Não duvida. Não se desespera. Ela acredita. Ela espera. Ela ama.

Na escuridão mais absoluta, Ela continua a crer. Enquanto todos fugiram, enquanto o mundo duvida, só no seu coração permanece a certeza da Ressurreição.

São Afonso diz que “Maria é a estrela na noite da alma. E neste dia, Ela é a única luz ainda acesa na Igreja”.

Maria é modelo para cada um de nós nos momentos de prova: quando não sentimos Deus, quando a alma mergulha na dor, quando tudo parece morto… Ela ensina-nos a esperar com amor.

Mas essa espera não é sem lágrimas. Ela continua a sofrer. Porque ainda há filhos que não se converteram. Ainda há almas que não responderam ao amor do Crucificado. Ainda há almas que não querem deixar o mundo do pecado.

 

IV. Continuaremos a fazer chorar Nossa Senhora?

E aqui, chega o momento de nos olharmos ao espelho da alma. E, então, surge a pergunta: “O que estamos fazendo para consolar o Coração de Maria?”

Se hoje Maria chora… serei eu a causa do seu pranto?

Os meus pecados, a minha tibieza, o meu mundanismo, as minhas desculpas para não amar, para não obedecer, para não me converter… Como posso continuar a viver como se o Calvário não me dissesse respeito? Como posso ver o rosto de Maria coberto de lágrimas… e não cair de joelhos?

Devemos nos perguntar: “Será que estamos a fazer o suficiente para reparar as ofensas feitas a Jesus e a Maria?” Somos nós, muitas vezes, a causa da dor de Maria. São os nossos pecados, as nossas indiferenças, a nossa frieza espiritual que fazem com que Ela continue a chorar. E não é justo que a Mãe do nosso Salvador continue a sofrer por nossa causa. Não podemos ser insensíveis ao Seu sofrimento. A dor de Maria não é uma dor distante, que pertence apenas ao passado; é uma dor que ainda está presente sempre que há uma alma que se afasta de Deus.

“Que tipo de filhos somos nós?”
Será que somos filhos que consolarão a Mãe dolorosa ou continuaremos a ser motivo das Suas lágrimas?

Queremos continuar a fazer sofrer Nossa Senhora?

– Quando não rezamos… Ela chora.
– Quando ofendemos o seu Filho… Ela chora.
– Quando vivemos sem pureza… Ela chora.
– Quando somos frios, medíocres, sem fervor… Ela chora.

 

V. Consolar a Virgem: Flores para enxugar as lágrimas

Neste Sábado Santo, Maria não pede palavras. Pede flores.

Sim, flores. Mas não flores de jardim, que murcham e secam. Ela pede as flores da alma, que nascem do amor verdadeiro e do desejo sincero de consolá-La.

Quantas vezes, nas aparições ou nos textos dos santos, ouvimos que a alma mariana é aquela que “leva flores a Nossa Senhora”? Não são metáforas poéticas. É a linguagem dos santos.

São Luís Maria Grignion de Montfort convida-nos a oferecer a Maria as flores brancas da pureza, as violetas da humildade, as rosas vermelhas do amor ardente, os lírios da mortificação, os cravos do sacrifício escondido.

Hoje, a Mãe Dolorosa segura o corpo de Jesus... como no Natal, mas agora... morto. Ela está no silêncio da espera, mas as Suas mãos continuam abertas… esperando os nossos gestos de amor.

Cada oração bem feita é uma flor. Cada pequeno sacrifício aceito com paciência é uma flor. Cada vez que vencemos a nós mesmos por amor a Deus, é uma flor. Cada ato de fé, cada olhar de compaixão, cada renúncia interior... são flores colocadas aos pés de Maria.

E Ela, como verdadeira Mãe, acolhe cada flor com lágrimas de gratidão.

Hoje é o dia para compormos um ramalhete espiritual. Um ramalhete que não se vê com os olhos do mundo, mas que alegra profundamente o Coração da nossa Mãe. Não importa quão simples seja a nossa flor — desde que seja dada com amor e humildade.

— Tens o coração ferido por pecados antigos? Oferece-Lhe a flor do arrependimento.
— Tens uma cruz silenciosa que carregas cada dia? Oferece-Lhe a flor da paciência.
— Estás a lutar contra uma tentação? A flor da fidelidade será perfume para a sua dor.
— Estás sozinho? Abandona-te nas Suas mãos: essa entrega será como um lírio nos Seus pés.

Cada um pode e deve trazer flores à Virgem neste dia. E, se o fizermos com verdade e amor, veremos que as Suas lágrimas se tornarão sorrisos, pois não há maior consolo para uma mãe do que ver os seus filhos a amarem-se e a voltarem ao caminho do bem.

Sejamos, pois, filhos que não apenas choram com Maria, mas que A consolam — com gestos concretos, com flores verdadeiras.

 

“Mãe minha, se fui causa do teu pranto, não quero mais sê-lo. Dá-me um coração contrito, uma alma fiel. Quero viver para consolar-te, quero ser digno do teu amor. Quero reparar as ofensas feitas ao teu Filho e ao teu Coração. Não permitas que tuas lágrimas caiam em vão. Quero ser teu filho, teu consolo, tua alegria. Amém.”